sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Capítulo I - Por las calles desconocidas (parte 4)

Parte 04 - Sober*


Poderia pensar, neste momento infinito, que toda violência injustificada de meu episódio seria um lapso de justiça do universo. Isto bem poderia estar acontecendo com você, leitor ávido que escarnece de minhas desventuras, de meus sofrimentos. Por que teria de acontecer justo comigo? Pergunto a você, que neste momento, perplexo, questiona se realmente estou a olhar dentro de seus olhos fundos e raivosos: Por que isto não está em sua vida? Por que teria de acontecer justo comigo?

E aquele ser, que rapidamente se aproxima (penso)...

E você! Você não teria a resposta para a apatia de sua vida nem que ela própria necessitasse disto para continuar a existir. A resposta que busco vem como mil agulhas adentrando minha pele, a dor... qual dor? Uma sensação de alívio traspassa meu corpo, um bálsamo morno e reconfortante toma conta de minh'alma. Percebo, num instante de sobriedade, que estou num lugar íntimo, reconhecível (onde seria?). Sóbrio, posso perceber a mim mesmo num de meus ataques de fúria, a caricatura grotesca, o rosto deformado pelo ódio e pela frustração de não ser aquilo que pensava, que almejava, culpando a todos que estavam ao meu redor, aos berros, sem limites.

Somente a des-embriaguez faz a percepção deste mundo parecer tão próxima a do outro, e a do outro, e a do outro. Os vários "eus" que me habitam agora formam um só, desmascarado, desalmado, desajustado. Talvez esta seja a verdadeira matriz de meu mundo, o verdadeiro eu, explorado e explorador, deflorador e deflorador, devorado e devorador. Enquanto aquela criatura consome minha carne e meus pensamentos, percebo nela pedaços de mim. Será que devo me entregar ao desbunde deste banquete, onde sou o prato principal? Ou devo consumir minhas últimas forças para sair deste pesadelo sem fim?

Tudo bem! Já não estou mais aqui! Tudo bem?! Estou num estado de letargia crônica, onde cada movimento só faria sentido se o único sentido fosse sentir...

- Está tudo bem?!

*Sóbrio

FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO.

CONTINUA...